quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Eleições 2020 são classificadas como históricas em audiência pública do TRE-BA no Sul do estado

Em evento virtual realizado nesta quinta-feira (10/9), representantes da Justiça Eleitoral baiana e da sociedade civil debateram sobre a logística do pleito com as adversidades trazidas pela Covid-19



As Eleições Municipais de 2020 já podem ser consideradas históricas e também um exemplo de como superar adversidades para preservar a democracia. Essa ideia unifica diversas falas da audiência pública virtual realizada pelo Tribunal Regional Eleitoral da Bahia nesta quinta-feira (10/9), com municípios da região Sul do estado. 

O evento reuniu 51 zonas eleitorais, 75 cidades e diversos representantes da sociedade civil para debater a logística do pleito de novembro, que acontecerá durante a pandemia de coronavírus. O presidente do TRE-BA, desembargador Jatahy Júnior, conduziu a audiência, destacando medidas adotadas pelo Tribunal Superior Eleitoral para minimizar as dificuldades enfrentadas com a crise na saúde pública. 

O desembargador citou o acréscimo de uma hora para a votação, que será das 7h às 17h, e lembrou que essa primeira hora extra visa atendimentos prioritários, como idosos, gestantes, lactantes, pessoas com deficiência, mobilidade reduzida e pertencentes a grupos de risco. A suspensão provisória da biometria também foi mencionada como uma ação da Justiça Eleitoral para evitar o contágio de coronavírus. 

Na audiência, o presidente do TRE-BA enfatizou que todos os mesários receberão equipamentos de proteção individual. As seções estarão equipadas com canetas, mas é aconselhável que cada eleitor leve o próprio material para assinar após as votações, diminuindo o risco e a exposição. O Eleitoral baiano orienta ainda que as pessoas a não peçam comprovante de votação, que poderá ser emitido pela internet ou pelo e-Título. 

As campanhas políticas também foram abordadas pelo presidente Jatahy Júnior, que resume o cenário de 2020 como uma questão de bom senso. “Até para conquistar os votos, os candidatos devem dar o exemplo, respeitando as condições sanitárias vigentes no momento e mostrando que prestigiam o bem maior de todos, que é a vida”, afirmou. 

Campanhas responsáveis

O procurador regional eleitoral da Bahia, Cláudio Gusmão, reforçou o discurso do presidente do TRE-BA sobre as campanhas, afirmando que será preciso conciliar os atos relacionados a essa fase da disputa com as limitações sanitárias. “Uma eleição municipal, por si só, é desafiadora. Para se ter uma ideia, em 2016 foram 3.500 processos em 45 dias. Administrar tudo isso em meio a uma pandemia, será ainda mais complexo”. 

O Ministério Público Eleitoral tem buscado posição uniforme para lidar com as questões de campanha e não limitar seus atos, desde que aconteçam de forma responsável, afirmou o procurador. Para ele, também é desafiador construir estratégias e encontrar soluções que dependem da evolução de um cenário que vai mudando com o tempo e para o qual todos ainda são “principiantes”. 

A juíza Natir Dantas Weber, presidente da Associação dos Magistrados da Bahia, foi a primeira a mencionar, durante a audiência, o fato de que as Eleições Municipais de 2020 já podem ser consideradas históricas. “A preocupação geral é pelo bom e livre exercício do voto e para garantir a saúde de todos os envolvidos no processo. Mas, seremos lembrados como exemplo de como superar adversidades”. 

Justificativa online

A logística mais segura do pleito em 2020 também foi abordada pelo secretário de Planejamento, de Estratégia e de Eleições, Maurício Amaral. O secretário observou que uma série de medidas adotadas pela Justiça Eleitoral, somadas ao fato de que serão apenas dois votos e não seis, como nas Eleições Gerais, provavelmente fará com que o fluxo de votação seja mais rápido e não aglomere pessoas. 

Além do horário estendido e da dispensa de identificação biométrica, em 2020, o TSE vai possibilitar que a justificativa de quem estiver fora do domicílio eleitoral seja feita pelo aplicativo e-Título, que passa a incorporar mais essa função. O app dispensa comprovante porque funciona com georreferenciamento. 

“Essa é uma medida acessória de extrema importância, ainda mais se considerarmos que, em média, 15% do total de comparecimentos nas seções são de pessoas que vão justificar suas ausências”, afirmou o secretário. O e-Título está disponível para download para as plataformas Android e iOS.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Comentários...

Depois de inspirados textos inaugurais de Carlinha e Regi, venho dialogar após uma semana de direto contato com Grécia, Roma e grande parte da Antiguidade. Antígona, Platão, Aristóteles, Sócrates, Maquiavel... Só para colocar alguns nomes. Mas a companhia foi agradável e começo a perceber que a longa batalha pode ser muito interessante.

Mas a idéia aqui é o jornalismo, pelo menos, também o jornalismo. E, principalmente, uma boa narrativa. Para começar, um link que não sei se é do conhecimento de todos: Texto Vivo. Da Academia Brasileira de Jornalismo Literário, com narrativas publicadas, comentários e informações sobre cursos de especialização na área.

[Eduardo]

sexta-feira, 13 de abril de 2007

texto bom, texto ruim e literatura da realidade



o garoto que fez essa entrevista é meio mala e um tanto quanto ingênuo. mas é sempre bom ouvir o que edvaldo pereira lima tem a dizer a respeito do jornalismo literário. aqui ele critica eliane brum, que defende que não existe jornalismo literário e sim texto bom e texto ruim. não importa a nomenclatura que se dê, edvaldo explica, desde que a gente entenda que esse é um gênero que existe, é óbvio, e cujo objetivo é sair dos limites do jornalismo urgente e factual.

uns chamam de novas narrativas outros de litertura da realidade (eu particularmente adoro esse), mas esse maniqueísmo de brum está por fora. nos jornais norte-americanos é possível ver esses textos com mais frequência. será que um dia ele entra no cotidiano do brasil? por enquanto está restrito à poucas revistas, mas...

para completar o vídeo, o garoto resolve dizer que capote "perdeu um pouco da imprcialidade" em a sangue frio. a resposta é boa... [carla b]

terça-feira, 10 de abril de 2007

Proposta Indecente




Toca o telefone celular. O número não é conhecido, mas como o código é 3115, só podia ser coisa de governo ou de político.
- Sim?
- É a jornalista Regina, de O Jornal?
- Pois não, pode falar.
- Aqui é a secretária da deputada "fulana de tal..."

Lembrei que a deputada fulana de tal foi citada num desses blogs de política local - porque uma das primeiras lições que aprendi cobrindo política é que os repórteres de Política entram nos blogs de fuxicos políticos, logo de manhã, para saber as top 10 do dia. Uma história de inegibilidade envolvia a deputada fulana de tal. "Ôba", pensei. Eu mal começo a dar as caras pela Assembléia e a deputada fulana de tal, que nunca vi mais gorda na vida, já está me procurando..."Como será que ela conseguiu meu telefone?", penso.

- Pode falar.
- É que a deputada gostaria de marcar uma reunião com você, aqui no gabinete dela. Você poderia vir aqui amanhã às 9h?
- Não posso falar com ela para adiantar o assunto, por telefone?

Número anotado. Ligação na sequência. Alguém atende; falatório ao fundo. Plenário.

- Deputada fulana de tal? É Regina, a repórter de O Jornal.
- Oiiiiiii, minha filha! Como vai você?
– Be-em... –respondo, meio sem jeito com a intimidade forçada –...A senhora quer falar comigo? - digo, já com a caneta e o bloquinho a postos - essa história da inegibilidade...
– Então - finge que não ouve -, é você que está fazendo reportagem aqui na Assembléia, não é? Eu queria assim... falar com você quanto é para fazer a divulgação do meu trabalho aí no jornal...
- Não, deputada - ainda tento -, não paga nada para a senhora mandar informações aqui pro jornal. A editoria recebe e, dependendo da situação, a gente divulga.
- Não, mas não é isso não. Eu tenho assessor de imprensa no meu gabinete...mas é que eu queria assim, uma coisa mais certa, uma coisa que eu possa assim, a gente fazer um contrato e você divulgar as coisas que faz um parlamentar. A gente acerta um preço e faz...

Respiro fundo. Ou a deputada fulana de tal é sem noção ou está tirando uma com a minha cara.

- Ó só deputada, eu não posso fazer isso pela senhora porque eu estou cobrindo a área Política...é uma situação que não dá para conciliar, entende?
- Ah, é porque podia vazar né...

Não, não creio.

- Não é vazar deputada, eu não vou poder fazer isso pela senhora porque não é certo.
- Ah, entendo...é, eu tenho outro nome aqui, do [outro jornal], o nome dele é "tal".
- É, não sei. Liga pra ele então.
- Tá bom então, minha filha. Um grande beijo pra você.
- Tchau deputada - já estou desligando quando ouço algo e volto o celular à orelha.
- Mas qualquer coisa eu te ligo, viu?

Sem noção. E eu pensando que era matéria...humf...vá procurar o que fazer, mulher! Só queria saber quem foi o sacana que deu meu número de telefone pra ela. [regina b]

Aos vermes, dedico como saudosa lembrança essas memórias...



Depois de oito anos de Redação, cobrindo a Geral - ou seja, a editoria na qual tudo aquilo que não se encaixa em editorias especializadas, desde uma manifestação de estudantes histéricos nas ruas até a morte de uma baleia na praia - com incursões esparsas nos cadernos de Esporte, Cultura e voltado para jovens e adolescentes, aceito o desafio de me embrenhar no mundo retórico, teatral e espetacularizado da Política.

Em Política, definitivamente, sou foca. E, como foca, ainda não consigo naturalizar - e espero mesmo que isso não aconteça - algumas situações que presencio pelos meandros da Câmara de Vereadores, Assembléia Legislativa, no Executivo baianos. Ficam aqui os bastidores das desventuras de uma repórter novata no semi-árido da Política. Alguns reveladores. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

PS: Aqui, o jornal para o qual trabalho será chamado apenas de "O Jornal". [regina b]

domingo, 8 de abril de 2007

sem ônibus, a sangue frio




na foto: Perry Smith e Dick Hickock, mortos pelo assassinato de quatro membros da família Clutter

Desde que tomei vergonha na cara e resolvi aprender a dirigir tenho lido muito menos. Perdi a minha leitura favorita: aquela no sacolejo do ônibus cheio na ida para o trabalho ou na luz fluorescente do mesmo ônibus na volta para casa. Não consigo me habituar a leitura mais tranquila, sem sapatos, na poltrona macia e vou colecionando uma série de livros lidos pela metade...


E que saudade de devorar Saramago ou Joseph Mitchel em viagens de carro pelas esburacadas estradas da Bahia. Que saudade da minha cara de espanto e reverência ao conhecer Hemingway no banquinho mais alto do Cabula VI... E as gargalhadas que Bukowski me arrancava no Praça da Sé ou a maneira como eu ficava atordoada com Ana Cristina Cézar, Clarice Lispector e Hilda Hilst nos Sussuaranas da vida....

Aí, há pouco menos de um mês, eu começo a ler A Sangue Frio, de Capote. Num estalo, senti prazer naquilo, mesmo sabendo que de manhã, quando estivesse doida para recomeçar a história, eu estaria guiando. Dirigir é ficar preguiçoso, caros amigos. Tudo fica longe, eu bem poderia sair com o meu livrinho debaixo do braço e enfrentar todas as ladeiras que separam a minha casa do ponto de ônibus para manter o prazer indescritível daquela leitura.... Mas não.


No auge da minha burguesia e preguiça eu coloco o livro na bolsa, entro no carro, dou a partida, escuto as notícias pelo rádio e tento manter a história em mim. No início houve uma empolgação típica. A Sangue Frio me tomou de súbito, eu cheguei quase no meio do livro em um dia...

Até que começaram as aulas de jornalismo literário e os textos que Colling passava somados ao meu trabalho e falta de disciplina fizeram com que eu arquivasse a história do homenzinho de voz molenga e caráter duvidoso. Detesto quando abandono um livro pela metade (e devo confessar que tenho feito isso muito mais do que gostaria).... Fica tudo perdido na hora de voltar, a memória embaralhada...

Então ontem, depois de não sei quantos dias longe do assassinato brutal nos confins rurais norte-americanos, eu pego o livro novamente e que surpresa deliciosa. Capote tem uma narrativa tão fluida e cativante que é praticamente instantânea a maneira como tudo volta, aliás, como tudo parece nunca ter saído do lugar.

Estou encantada com esse ping pong entre o mundo dos Clutter e o mundo de Perry e Dick. Fico ansiosa para saber que horas essas duas histórias vão se encontrar. Aqui mesmo na internet, os artigos que fazem referência ao texto de Capote são como ele gostaria: cercados de toda a mitologia que o escritor fez questão de cultivar, para emular ainda mais a sua imagem excêntrica e genial.

"Texto imaculadamente factual", um homem que conseguiu reunir tantos detalhes gabando-se de jamais ter usado o gravador e, ao mesmo tempo, um homem que conseguiu juntar mais de oito mil páginas em recortes de jonal em material sobre aquele crime, um homem que reintrevistou tantas vezes as mesmas pessoas e que, cuidadosamente construiu sua trama durante seis anos.

Tenho quase certeza de que A Sangue Frio vai me fazer entender o quanto é preciso desligar a televisão, o quanto é preciso tirar a tv do quarto e deixar que ela fique lá longe, na sala. Para que a cama fique ainda mais confortável, a madrugada ainda maior e mais assustadora e a vista não canse antes que hoje ainda eu consiga avançar a passos rápidos, como numa fuga, pelas páginas de sua história. [carlab]

sexta-feira, 6 de abril de 2007

silêncio...


na foto: as atrizes Laura Harring e Naomi Watts em cena de Mulholland Drive
"Não é mistério nenhum o povo do jornal ter se incomodado. Eles eram melhores que ferroviários na resistência a qualquer coisa rotulada nova..."
"Tinha plena consciência do que havia me reduzido a esse estado de pieguice estudantil... Era sempre noite nos meus sonhos de vida jornalística..."
"Tom... o mundo real não existe....O realismo não é meramente outra postura ou atitude literária....como num romance..."
"Literalmente, eu fui moldado, formado, atrofiado e encontrei um sentido no mundo por meio do romance realista americano de meados e final dos anos 30"
"Dos catorze aos dezessete anos eu me entupi com as obras de Tom Wolfe..."
Isso é Thomas Wolfe e é Seymour Krim. Isso é gostar de escrever sem amarra, isso é um chute na burocracia, uma bicuda, aliás. E depois, ainda podemos bater no peito e arrotar com gosto de coca zero: é jornalismo.
O chefe que quer saber sobre horário, sobre o código da página, sobre a vírgula e a fonte, ele está morto. Ele é um zumbi com cheiro de queijo azedo que perambula na sexta-feira emocionada. Eu dou de ombros.
Estou no meio da rua, onde quem não quer salvação anda descalço em caco de vidro, estou aqui no meio de minha rua imaginária e eu olho no olho das pessoas que, como eu, também não precisam de cartão ou código de barras. Minha ciberutopia é ancestral, sabe? Meus códigos binários falam sânscrito, sussurram baixinho: "Talvez ainda haja tempo....".
Eu quero voltar a ter orgulho do que escolhi. Quando eu tinha treze, minha utopia combinava com aviões e pessoas gritando, um bloquinho espremido na multidão nervosa ou a voz doce de uma poetiza esquisita, o filme novo de David Lynch. Era qualquer coisa, qualquer coisa...
Era um beijo na boca desses intensos, de língua úmida e hálito de sorvete, era a lua nascendo amarela atrás do asfalto, eu tinha certeza de que podia chamar tudo isso de jornalismo antes de sentar no mundo real e querer sair.
O gancho aperta a minha vontade de ser mais. O lead despreza a minha fúria e eu preciso dela, eu preciso tanto dela pra suportar aquelas gargalhadas matinais.... Tô cansada de não ter tempo e desaprender a sinestesia dos outros, e eu sabia adivinhar a sinestesia dos outros, que nem adivinhar o signo ou as horas.
Quero um texto com todas as partes dos textos que eles mandaram cortar. Quero os travessões incômodos e sujos das pessoas, quero o bastidor em neon na primeira linha e uma manchete de bêbados com saudade daquele futuro que não vem nunca...
Se pudesse eu escrevia isso tudo lá em casa, mas a moça da velox tem a coragem de oferecer a meu namorado uma "super" internet discada, eu perguntei se vinha junto com uma fita cassete de brinde ou um pogobol para as crianças. ha ha.
É isso, pegar o que você não acredita e transformar em algo a seu serviço. Ou alguém vai dizer que o release da cia das letras sobre a série jornalismo literário não é prepotente e adorável?
"Como o dry martini e a voz de Frank Sinatra, o jornalismo literário é uma das grandes instituições americanas que fizeram o século 20"...
Cheguei atrasada na aula de ser livre. Agora fico aqui, correndo atrás de burocracia. Tá vendo que não tem chance de sobreviver muito tempo? Nem html eu sabia, quanto mais...
Semana passada, quando eu vi aquela cena de Munholland Drive foi que eu entendi tudo.
Quando aquele tio Patinhas gofa o café orgânico na sala de reunião, aquela, que vai decidir a atriz principal do filme e matar a criatividade do diretor, bom, quando esse tio gofa o café eu quase pulo da cadeira de alegria por finalmente ter entendido tudo.
Não sei vocês, mas todos os dias eu derramo litros de café em toalhinhas de falsa ficção...
[carlab]