quinta-feira, 10 de setembro de 2020
Eleições 2020 são classificadas como históricas em audiência pública do TRE-BA no Sul do estado
segunda-feira, 16 de abril de 2007
Comentários...
Mas a idéia aqui é o jornalismo, pelo menos, também o jornalismo. E, principalmente, uma boa narrativa. Para começar, um link que não sei se é do conhecimento de todos: Texto Vivo. Da Academia Brasileira de Jornalismo Literário, com narrativas publicadas, comentários e informações sobre cursos de especialização na área.
[Eduardo]
sexta-feira, 13 de abril de 2007
texto bom, texto ruim e literatura da realidade
o garoto que fez essa entrevista é meio mala e um tanto quanto ingênuo. mas é sempre bom ouvir o que edvaldo pereira lima tem a dizer a respeito do jornalismo literário. aqui ele critica eliane brum, que defende que não existe jornalismo literário e sim texto bom e texto ruim. não importa a nomenclatura que se dê, edvaldo explica, desde que a gente entenda que esse é um gênero que existe, é óbvio, e cujo objetivo é sair dos limites do jornalismo urgente e factual.
uns chamam de novas narrativas outros de litertura da realidade (eu particularmente adoro esse), mas esse maniqueísmo de brum está por fora. nos jornais norte-americanos é possível ver esses textos com mais frequência. será que um dia ele entra no cotidiano do brasil? por enquanto está restrito à poucas revistas, mas...
para completar o vídeo, o garoto resolve dizer que capote "perdeu um pouco da imprcialidade" em a sangue frio. a resposta é boa... [carla b]
terça-feira, 10 de abril de 2007
Proposta Indecente
Toca o telefone celular. O número não é conhecido, mas como o código é 3115, só podia ser coisa de governo ou de político.
- Sim?
- É a jornalista Regina, de O Jornal?
- Pois não, pode falar.
- Aqui é a secretária da deputada "fulana de tal..."
Lembrei que a deputada fulana de tal foi citada num desses blogs de política local - porque uma das primeiras lições que aprendi cobrindo política é que os repórteres de Política entram nos blogs de fuxicos políticos, logo de manhã, para saber as top 10 do dia. Uma história de inegibilidade envolvia a deputada fulana de tal. "Ôba", pensei. Eu mal começo a dar as caras pela Assembléia e a deputada fulana de tal, que nunca vi mais gorda na vida, já está me procurando..."Como será que ela conseguiu meu telefone?", penso.
- Pode falar.
- É que a deputada gostaria de marcar uma reunião com você, aqui no gabinete dela. Você poderia vir aqui amanhã às 9h?
- Não posso falar com ela para adiantar o assunto, por telefone?
Número anotado. Ligação na sequência. Alguém atende; falatório ao fundo. Plenário.
- Deputada fulana de tal? É Regina, a repórter de O Jornal.
- Oiiiiiii, minha filha! Como vai você?
– Be-em... –respondo, meio sem jeito com a intimidade forçada –...A senhora quer falar comigo? - digo, já com a caneta e o bloquinho a postos - essa história da inegibilidade...
– Então - finge que não ouve -, é você que está fazendo reportagem aqui na Assembléia, não é? Eu queria assim... falar com você quanto é para fazer a divulgação do meu trabalho aí no jornal...
- Não, deputada - ainda tento -, não paga nada para a senhora mandar informações aqui pro jornal. A editoria recebe e, dependendo da situação, a gente divulga.
- Não, mas não é isso não. Eu tenho assessor de imprensa no meu gabinete...mas é que eu queria assim, uma coisa mais certa, uma coisa que eu possa assim, a gente fazer um contrato e você divulgar as coisas que faz um parlamentar. A gente acerta um preço e faz...
Respiro fundo. Ou a deputada fulana de tal é sem noção ou está tirando uma com a minha cara.
- Ó só deputada, eu não posso fazer isso pela senhora porque eu estou cobrindo a área Política...é uma situação que não dá para conciliar, entende?
- Ah, é porque podia vazar né...
Não, não creio.
- Não é vazar deputada, eu não vou poder fazer isso pela senhora porque não é certo.
- Ah, entendo...é, eu tenho outro nome aqui, do [outro jornal], o nome dele é "tal".
- É, não sei. Liga pra ele então.
- Tá bom então, minha filha. Um grande beijo pra você.
- Tchau deputada - já estou desligando quando ouço algo e volto o celular à orelha.
- Mas qualquer coisa eu te ligo, viu?
Sem noção. E eu pensando que era matéria...humf...vá procurar o que fazer, mulher! Só queria saber quem foi o sacana que deu meu número de telefone pra ela. [regina b]
Aos vermes, dedico como saudosa lembrança essas memórias...
Em Política, definitivamente, sou foca. E, como foca, ainda não consigo naturalizar - e espero mesmo que isso não aconteça - algumas situações que presencio pelos meandros da Câmara de Vereadores, Assembléia Legislativa, no Executivo baianos. Ficam aqui os bastidores das desventuras de uma repórter novata no semi-árido da Política. Alguns reveladores. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
PS: Aqui, o jornal para o qual trabalho será chamado apenas de "O Jornal". [regina b]
domingo, 8 de abril de 2007
sem ônibus, a sangue frio
na foto: Perry Smith e Dick Hickock, mortos pelo assassinato de quatro membros da família Clutter
Desde que tomei vergonha na cara e resolvi aprender a dirigir tenho lido muito menos. Perdi a minha leitura favorita: aquela no sacolejo do ônibus cheio na ida para o trabalho ou na luz fluorescente do mesmo ônibus na volta para casa. Não consigo me habituar a leitura mais tranquila, sem sapatos, na poltrona macia e vou colecionando uma série de livros lidos pela metade...
E que saudade de devorar Saramago ou Joseph Mitchel em viagens de carro pelas esburacadas estradas da Bahia. Que saudade da minha cara de espanto e reverência ao conhecer Hemingway no banquinho mais alto do Cabula VI... E as gargalhadas que Bukowski me arrancava no Praça da Sé ou a maneira como eu ficava atordoada com Ana Cristina Cézar, Clarice Lispector e Hilda Hilst nos Sussuaranas da vida....
Aí, há pouco menos de um mês, eu começo a ler A Sangue Frio, de Capote. Num estalo, senti prazer naquilo, mesmo sabendo que de manhã, quando estivesse doida para recomeçar a história, eu estaria guiando. Dirigir é ficar preguiçoso, caros amigos. Tudo fica longe, eu bem poderia sair com o meu livrinho debaixo do braço e enfrentar todas as ladeiras que separam a minha casa do ponto de ônibus para manter o prazer indescritível daquela leitura.... Mas não.
No auge da minha burguesia e preguiça eu coloco o livro na bolsa, entro no carro, dou a partida, escuto as notícias pelo rádio e tento manter a história em mim. No início houve uma empolgação típica. A Sangue Frio me tomou de súbito, eu cheguei quase no meio do livro em um dia...
Até que começaram as aulas de jornalismo literário e os textos que Colling passava somados ao meu trabalho e falta de disciplina fizeram com que eu arquivasse a história do homenzinho de voz molenga e caráter duvidoso. Detesto quando abandono um livro pela metade (e devo confessar que tenho feito isso muito mais do que gostaria).... Fica tudo perdido na hora de voltar, a memória embaralhada...
Então ontem, depois de não sei quantos dias longe do assassinato brutal nos confins rurais norte-americanos, eu pego o livro novamente e que surpresa deliciosa. Capote tem uma narrativa tão fluida e cativante que é praticamente instantânea a maneira como tudo volta, aliás, como tudo parece nunca ter saído do lugar.
Estou encantada com esse ping pong entre o mundo dos Clutter e o mundo de Perry e Dick. Fico ansiosa para saber que horas essas duas histórias vão se encontrar. Aqui mesmo na internet, os artigos que fazem referência ao texto de Capote são como ele gostaria: cercados de toda a mitologia que o escritor fez questão de cultivar, para emular ainda mais a sua imagem excêntrica e genial.
"Texto imaculadamente factual", um homem que conseguiu reunir tantos detalhes gabando-se de jamais ter usado o gravador e, ao mesmo tempo, um homem que conseguiu juntar mais de oito mil páginas em recortes de jonal em material sobre aquele crime, um homem que reintrevistou tantas vezes as mesmas pessoas e que, cuidadosamente construiu sua trama durante seis anos.
Tenho quase certeza de que A Sangue Frio vai me fazer entender o quanto é preciso desligar a televisão, o quanto é preciso tirar a tv do quarto e deixar que ela fique lá longe, na sala. Para que a cama fique ainda mais confortável, a madrugada ainda maior e mais assustadora e a vista não canse antes que hoje ainda eu consiga avançar a passos rápidos, como numa fuga, pelas páginas de sua história. [carlab]